Os setores de saneamento e energia são potencialmente os mais atrativos para investimentos em infraestrutura no Brasil, atualmente. O megaleilão da Cedae (RJ), realizado em abril deste ano, mais projetos em Alagoas (SE), Cariacica (ES), em 18 municípios do Amapá e em 68 municípios do Mato Grosso do Sul somam R$ 54 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos.
Na área de energia, está previsto para setembro próximo o megaleilão A-5, que vai oferecer 1.694 projetos, que totalizam 936 GW em várias regiões do país para geração solar, eólica, hidrelétrica, resíduos sólidos e térmica. “Será a primeira vez da nossa história que serão leiloados projetos de geração de energia a partir de resíduos sólidos. Serão 12 projetos de diversas cidades, incluindo um consórcio de sete municípios da região de Campinas (SP). Muito importante o desenvolvimento de projetos de fontes alternativas, especialmente agora, diante da crise hídrica”, informa o diretor da ABEMI, Joaquim Maia.
Na sua opinião, o que preocupa agora é a continuidade do pipeline de projetos, mas faltam novos projetos de infraestrutura, que precisam ser estruturados. E isso leva tempo. “Na área de saneamento, por exemplo, é necessário incrementar muito o investimento anual para atingir as metas do novo Marco Legal até 2033”, afirma Maia. Segundo ele, o BNDES e a Caixa precisariam ampliar sua capacidade para estruturação de projetos, já que, para o Brasil, é importante atrair mais investimentos em infraestrutura, aproveitando que o apetite dos investidores continua alto.
Outra expectativa está relacionada à votação da Medida Provisória 1.052, assinada em 19 de maio pelo presidente Jair Bolsonaro, criando um fundo garantidor de até R$ 10 bilhões para viabilizar concessões e parcerias público-privadas para obras da União, dos estados, do Distrito Federal e municípios.
Duas décadas de queda em investimentos
“O incremento de investimentos em infraestrutura é primordial para movimentar a economia e gerar empregos, mas nas últimas duas décadas o Brasil andou na contramão nessa área”, afirma o presidente da ABEMI, Gabriel Abouchar. Ele cita os dados do Relatório Infra2038, uma publicação que avalia o avanço da infraestrutura brasileira como fator de competitividade, mostrando o desempenho tacanho do Brasil nessa área. Em 2020, os investimentos em infraestrutura somaram R$ 115,8 bilhões, o equivalente a 1,55% do PIB, e representam uma queda de 5,4% em relação ao montante de 2019, quando o Brasil estava no 78o lugar no ranking mundial de competitividade do Fórum Econômico Mundial. “É o menor valor desde o ano 2000”, destaca Gabriel.
A tendência de queda nos investimentos começou em 2013, e o Relatório Infra2038 aponta como razão a crise fiscal do país, agravada com a Operação Lava-Jato, e ainda mais intensificada com a pandemia de Covid-19. Segundo o Relatório, a meta é alcançar o 20o lugar no ranking e, para isso, seria necessário investir R$ 339 bilhões por ano até 2038, o que implicaria avançar três posições por ano no ranking de competitividade e produziria 9,2 milhões de empregos.
De acordo com as projeções do Relatório Infra2038, os projetos de energia e saneamento básico, que têm como meta a universalização de água e esgoto no país, somados ao setor de transportes (com a construção do novo trecho da Ferrovia Norte Sul, o leilão da Ferrovia Oeste Leste e as renovações de concessões), devem ajudar o Brasil a investir 2% do PIB em 2022. “É muito importante, também, que o país avance nas reformas setoriais”, defende Gabriel.
Editora Conteúdo/Abgail Cardoso