A adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP) nos financiamentos voltados aos projetos de infraestrutura tem diminuído a vantagem competitiva e a atratividade das linhas de crédito do BNDES, que reduziu de forma significativa os seus desembolsos para essas obras: de R$ 69 bilhões concedidos em 2016, esse volume caiu para R$ 26 bilhões no acumulado em 12 meses até setembro de 2018.
Diante desse cenário, tem crescido o mercado privado de financiamento de longo prazo, mas ainda de forma insuficiente para atender à demanda reprimida de projetos de infraestrutura no Brasil. “A necessidade de investimentos em infraestrutura é da ordem de R$ 1 trilhão para os próximos quatro anos, o que nos dá uma dimensão tanto dos desafios como das oportunidades envolvidas nessa questão”, afirma o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da ACLacerda Consultores.
Para ele, é preciso ampliar o financiamento de projetos de infraestrutura por meio do mercado de capitais. As emissões de debêntures incentivadas de infraestrutura têm sido uma alternativa para a captação de recursos pelas empresas. “Em 2018, o valor de emissões dessa modalidade se aproximou do total de desembolsos do BNDES em infraestrutura, com destaque para as áreas de energia, transporte, telecomunicações e saneamento”, informa Lacerda. “O mercado de debêntures tem elevado potencial de crescimento, com o aumento do interesse por parte de fundos de investimento e de pessoas físicas como aplicadores”, reforça André Paiva Ramos, também da ACLacerda Consultores.
Financiamentos externos
Para Luciana Bittar, presidente da butique de financial advisory LBittar Partners, a retomada dos investimentos em infraestrutura na dimensão demandada pela economia exige – além do mercado de capitais – o concurso do maior número possível de fontes de financiamento disponíveis no mercado, incluindo-se aí os organismos multilaterais de crédito (Banco Mundial, BID, NDB New Development Bank, etc.), Eximbanks (dos Estados Unidos e do Japão, por exemplo), fundos de pensão e de investimentos.
Segundo ela, hoje o Brasil está carente de recursos e dependerá em larga escala de financiamentos externos. “Verifica-se atualmente grande liquidez no mercado internacional, e o Brasil poderá se beneficiar de recursos externos para investimentos de infraestrutura uma vez alterada a legislação pertinente e aperfeiçoadas as regras de licitações, com a preservação das regras jurídicas”, afirma.
De acordo com Luciana, o empresário brasileiro e o estrangeiro precisam ter confiança nas regras e no ambiente econômico para realizar seus investimentos. “Para que o Brasil possa tirar proveito dessa liquidez, é importante a definição de uma estratégia visando à maior presença das empresas brasileiras no comércio exterior, não só como proteção de seu mercado, mas também para a promoção de parcerias com empresas estrangeiras, facilitando assim o acesso a esses recursos de financiamento hoje disponíveis no exterior”, resume.
Editora Conteúdo/Maria Inês Caravaggi