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Brasil precisa de política estruturada e mudança radical no ensino para avançar na Indústria 4.0

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Efervescente nos países desenvolvidos, especialmente na Alemanha e nos Estados Unidos, e nos demais integrantes dos BRICS, o fenômeno da Indústria 4.0, também conhecido como a quarta revolução industrial, está engatinhando no Brasil. “Já existem empresas que estão inseridas na Indústria 4.0, como as áreas automobilística, farmacêutica, cosméticos e agronegócio. Esse movimento, porém, ainda não atinge 3% do parque industrial brasileiro”, afirma Marcílio Pongitori, diretor da Dynamis Automação e Cursos, empresa parceira da ABEMI que está ministrando cursos exclusivos para associados.

Segundo Marcílio, no Brasil a inserção de empresas do setor de engenharia industrial ocorre à medida que há investimentos e encomendas de clientes. O problema é o baixo nível de investimento em função do momento econômico. Especialista no assunto, Marcílio analisa, nesta entrevista, como o Brasil está nesse movimento e o que precisa fazer para acelerar seu ritmo e chegar mais perto do pelotão de frente nessa corrida.

O que é e onde surgiu o fenômeno chamado indústria 4.0? 

A Indústria 4.0 ou quarta revolução industrial, como alguns têm chamado, diz respeito a uma série de transformações tecnológicas que estão alterando as maneiras de produzir e as relações clientes empresas. Esse movimento teve início na década de 1970 com o surgimento dos Tigres Asiáticos com o modelo IOE (Industrialização Orientada à Exportação). Ganhou força com a entrada da China, que iniciou o processo desindustrialização no mundo. O termo Indústria 4.0 (do alemão “Industrie 4.0”) surgiu na feira de Hannover em 2011. Por solicitação do governo alemão, foi feito um estudo sobre a conexão entre máquinas, sistemas e ativos visando o controle da cadeia de valor tendo como objetivo tornarem as fábricas mais eficientes e inteligentes.

 Quais as características de uma fábrica inteligente? 

Para que uma fábrica seja considerada inteligente, ela deve ser projetada e operada em torno de quatro pilares fundamentais. O primeiro é a interoperabilidade, com máquinas, dispositivos, sensores e pessoas que se conectam e se comunicam entre si. Outro pilar é a transparência de informação, com sistemas computacionais que criam um modelo virtual do mundo físico através dos dados de sensores para contextualizar informações. O terceiro pilar diz respeito à assistência técnica, com os sistemas apoiando os seres humanos na tomada de decisões e na resolução de problemas e ajudando os seres humanos com tarefas muito difíceis ou inseguras. O quarto pilar se refere a decisões descentralizadas, com sistemas cibernéticos tomando decisões simples e tornando-se tão autônomos quanto possível.

Na prática, o que muda com a Indústria 4.0?

Com a implantação dos conceitos de Indústria 4.0, modificase a forma de produzir e controlar os processos produtivos das empresas. Todos os avanços tecnológicos passam a fazer parte da cadeia produtiva, desde o desenvolvimento dos produtos. Isso inclui tecnologia de impressão 3D, comunicação máquina a máquina, redes industriais de alta velocidade, instrumentos inteligentes, robótica, computação em nuvens, big data, plataformas IIoT ( Internet Industrial das Coisas ou do inglês “Internet of Things”), entre outras.

 

 Em que medida a Indústria 4.0 afeta as empresas do setor de engenharia industrial?

Os novos projetos em plantas industriais já existentes passam por uma profunda transformação na sua concepção, fazendo com que as empresas de engenharia tenham de rever a forma de controlar os processos. Outro grande impacto é em relação ao perfil dos profissionais de engenharia, que passam a ter novos conhecimentos.

Em que estágio estão os países desenvolvidos e os demais participantes dos BRICS?

Os países desenvolvidos ou participantes dos BRICS estão correndo com iniciativas fortes, desde planos de investimentos governamentais e particulares, profunda reforma no ensino e projetos. Nos próximos cinco a dez anos, haverá mudanças nos processos produtivos e nas relações internacionais bastante agressivas. Esse processo deve alterar profundamente as relações entre as empresas e clientes, de forma que surgirão novos conglomerados e, por outro lado, um grande número de empresas deve mudar de dono ou desaparecer.

Como o Brasil está posicionado em relação a esse fenômeno e o que é preciso para avançar?

No parque industrial brasileiro, as empresas ainda estão na Indústria 2.0 ou 3.0. Temos de correr muito. Para avançarmos na Indústria 4.0, tem de haver uma mudança radical na base do ensino, nos investimentos das indústrias e na relação com o mercado. O Brasil, por meio do governo federal, já está investindo em iniciativas para incentivar a nova revolução, porém tem de haver o engajamento das forças produtivas. Precisamos de uma política governamental bastante estruturada e orientada para esta nova forma de produção, e o país precisa revisar urgentemente seu processo educacional, incentivar a permanência dos profissionais no país e voltar a crescer em termos econômicos. As organizações empresariais necessitam mudar sua postura quanto a orientar seus associados e divulgar as novas formas de produção e o relacionamento mercadológico.

Quais seriam os benefícios de um avanço do Brasil em relação à Indústria 4.0?

Estima-se que este mercado necessite de investimentos pesados nos próximos cinco anos para fazer frente à concorrência mundial. Os números são da ordem de bilhões de reais em investimentos, porém os números esperados de retorno com estas novas tecnologias são da ordem de trilhões no PIB no mesmo período. Mas os principais benefícios são a participação do país e das empresas no competitivo mercado internacional e a modernização do parque produtivo.

Palestra na ABEMI

Automação na Indústria 4.0 foi o tema de uma palestra na sede da ABEMI, no dia 8 de maio, por especialistas da Dynamis Automação e Cursos. Foram apresentadas as principais tecnologias de automação industrial utilizadas nos projetos e quais suas contribuições para que uma empresa seja classificada como Indústria 4.0.

Foram destacados os instrumentos inteligentes e seus requisitos técnicos, a comunicação sem fio e os tipos de projetos necessários para suas aplicações, os sistemas de controle máquina a máquina (M2M) utilizados pelos sensores, os robôs autônomos e seus impactos na cadeia produtiva. Em termos operacionais, foram abordadas as novas tecnologias de interface humano/máquina, a computação em nuvem e o Big Data e o desenvolvimento de novos produtos com a tecnologia de impressão 3D. 

Após a apresentação das tecnologias, houve um debate com os participantes sobre as características dos profissionais de engenharia para novos projetos e sobre a necessidade de formação de profissionais que atendam às atuais demandas do mercado.

Editora Conteúdo/Abgail Cardoso

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