Abastecido historicamente por hidrelétricas, que nos anos 1980 chegaram a prover 95% da energia consumida no país, o Brasil se direciona para ter uma matriz energética cada vez mais térmica do que hídrica. “Caminhamos basicamente para o gás natural, o que vai permitir guardar água nos reservatórios para atender às necessidades em períodos de seca prolongada”, afirma Newton Duarte, presidente da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia).
Outra tendência no cenário energético brasileiro, ressaltada por Duarte, é a priorização da geração de energia perto dos centros consumidores. Isso vale, por exemplo, para a microgeração distribuída, por meio de painéis fotovoltaicos em residências, comércios e até shopping centers, supermercados e centros de distribuição.
Intercâmbio de energia elétrica
Quando as condições climáticas favorecem, o consumidor pode gerar parte de sua própria energia e vender o excedente ao Sistema Interligado Nacional (SIN), que conta com a participação de empresas de todo o país trabalhando de forma integrada, permitindo o intercâmbio de energia elétrica entre as diversas regiões brasileiras. O pagamento a esse consumidor vem na forma de desconto na conta de luz. “A Cogen conseguiu convencer a Anel de cobrar ICMS apenas sobre o volume consumido da distribuidora. Antes o consumidor tinha de pagar imposto inclusive sobre a energia que gerava”, compara.
A cogeração de energia a partir de biomassas, como bagaço de cana de açúcar, restos de processos das indústrias de papel e celulose, também tem sido uma via interessante para gerar energia para o próprio consumo e pode-se conectar o excedente no SIN. Já existem cerca de 400 usinas de cogeração, dessas 177 exportam energia para o sistema integrado nacional. Atualmente, até avicultores, suinocultores e pecuaristas podem cogerar energia usando dejetos dos animais.
“Ganha-se maior confiabilidade, porque a energia é gerada perto do ponto de consumo”, explica Duarte, lembrando que a estratégia de cogeração reduz a necessidade de pesados investimentos em linhas de transmissão e aumenta a confiabilidade.
Uma usina de etanol pode cogerar energia e vapor para movimentar suas máquinas (eliminando um passivo ambiental, reduzindo custos e ainda gerando uma receita com a venda do excedente) e ainda produzir biogás a partir de vinhoto (resíduo pastoso, malcheiroso e volumoso resultante do processo de produção do etanol), que ajuda a melhorar o rendimento das caldeiras da própria usina, pode ser usado como combustível de colheitadeiras e até ser conectado às redes de distribuição de gás.
Geração fotovoltaica
Entre as fontes renováveis, ele destaca a geração fotovoltaica. “Essa promete. Nosso pior sol é melhor do que o melhor sol da Alemanha, país que já tem 40 mil MW de capacidade fotovoltaica, o equivalente a três Itaipus, e que se destaca também com 40 mil MW de eólicas”, informa Duarte.
O Brasil tem atualmente 13 mil MW de eólica em operação e deverá chegar a 2020 a 18 mil MW. A energia solar é de pouco mais de 1 mil MW. “As novas renováveis trazem versatilidade ao sistema. São fontes ótimas, mas intermitentes por dependerem de condições climáticas. Quando estão em operação, permitem ao Operador Nacional reduzir a carga das hidrelétricas a fim de guardar água nos reservatórios. Água no reservatório é como bateria para guardar energia”, compara Duarte.
Amplo mix
Estão em operação mais de 7.100 empreendimentos que produzem 159 mil MW. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, 62% provém de hidrelétricas e 28% provém de fontes termelétricas (gás natural, carvão mineral, combustíveis fósseis, biomassa e nuclear). O restante é proveniente de usinas eólicas e de paineis fotovoltaicos.
Linha do tempo
Décadas 1940/50 – com a industrialização, cresce a demanda de energia
Décadas 1960/70 – 95% da energia elétrica consumida no país vem de usinas hidrelétricas. Entram em operação, entre outras, as usinas de Três Marias, Furnas, Ilha Solteira, Tietê, Paranapanema, Porto Primavera, Sobradinho, Itapaiuca, Moxotó, Paulo Afonso 1, 2 e 3, Xingu e Itaipu.
Décadas 1980/90 – País ainda é focado na geração hidrelétrica. Entra em operação Tucuruí, mas algumas áreas da Região Norte ainda não são atendidas pelo sistema integrado e são abastecidas por usinas a óleo combustível. Começa a operar a usina nuclear Angra 1, no Rio de Janeiro. Ocorre uma sucessão de blecautes no país e o maior apagão elétrico, em março de 1999, em decorrência da seca.
Década 2000 – Começam a ser construídas as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. O programa emergencial pós-apagão inclui a construção de usinas termelétricas a gás natural, parte delas com ciclo fechado combinado, que permite gerar vapor e usá-lo para movimentar turbinas adicionais, melhorando a eficiência. Acre é conectado ao sistema integrado nacional. Sem investimentos em aumento de capacidade, o país volta a enfrentar falta de energia e, em 2008, supre essa deficiência com usinas a óleo diesel, um sistema mais caro e altamente poluente e ineficiente.
Década 2010 – Entram em operação Santo Antônio e Jirau e o sítio experimental de Belo Monte. Avançam os investimentos em novas renováveis e na cogeração de energia e diversificam-se a fontes usadas. Segundo o Plano de Expansão de Energia 2026, da Empresa de Pesquisa Energética, cresce também o interesse do consumidor pelas tecnologias de micro e minigeração distribuída. Embora ainda insignificante, essa modalidade apresentou um salto de 4 vezes em 2016, chegando a 81 MW instalados, mas com grande potencial para desenvolvimento.
Editora Conteúdo/Abgail Cardoso