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Economista especializado em macroeconomia avalia processo de recessão e aponta desafios

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Com um crescimento do PIB previsto em 2,5% para 2018, a economia brasileira está melhorando. O Brasil tem um potencial enorme em diversas áreas, seja pelas vantagens competitivas, como é o caso da mineração e papel e celulose, seja pela demanda reprimida, como a construção civil. No entanto, uma série de incertezas advindas de problemas econômicos e políticos limita muito a capacidade de crescimento no curto prazo.

A análise é de Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor do Programa de Estudos Pós-graduados de Economia e Política da PUC SP e sócio-diretor da AC Lacerda, consultoria especializada em macroeconomia. Segundo ele, ainda vai levar alguns anos para que a economia brasileira retome os níveis de 2014, afetada por diversos fatores, como altas taxas de juros, desemprego e a falta de investimentos do setor público. “A queda de 30% dos investimentos desde 2014 – os do governo, os externos e os da iniciativa privada – foi muito superior à crise”, avalia.

Custo Brasil e eleições

“O país tem um velho problema de competitividade dado pelo custo Brasil – a questão tributária complexa, injusta, em cascata”, afirma o economista. Segundo Lacerda, isso afeta os setores de infraestrutura, portanto o mercado das empresas associadas à ABEMI. O economista lembra também as falhas regulatórias. “Temos agências de regulação com excessiva influência política ou que não têm a necessária regulação para funcionamento das regras. Isso cria incertezas para o investidor.”

As eleições e a Copa do Mundo são fatores que também interferem nesse cenário. “Estamos num ano eleitoral. É a eleição mais fragmentada, a mais disputada desde 1989. O quadro é muito incerto. Naturalmente, isso gera incertezas para os investidores. A campanha será curta. No meio teremos uma Copa do Mundo, que chama a atenção. Regras eleitorais não permitirão muito espaço para debate das ideias, do que realmente interessa do ponto de vista econômico. Num quadro assim, tendem a prevalecer teses populistas ou propostas radicais”, observa.

Para ele, a sustentação do crescimento da economia brasileira vai depender muito do programa do próximo governo. “Que tipo orientação ele terá, vai de fato enfrentar os problemas ou vai empurrá-los com a barriga? O espaço para empurrar com a barriga está cada vez mais curto”, destaca.

A falta de um projeto de desenvolvimento de curto prazo limita muito a capacidade de reação do país. “Vivemos um processo de desindustrialização dado pelas más condições que afetam a economia como um todo”. De acordo com ele, seria importante, no próximo governo, que esses temas entrassem na pauta e que tivessem maior ênfase no plano de desenvolvimento um projeto de políticas econômicas mais abrangentes e de política industrial envolvendo as questões comerciais, ciência e tecnologia inovação.

Como estão os setores

Confira como Antonio Carlos Lacerda analisa alguns dos setores ligados à ABEMI.

Mineração e papel e celulose São commodities, fixadas em dólar no mercado internacional, que tiveram queda muito significativa a partir de 2014. Agora começam a se recuperar. O lado externo é razoavelmente favorável para esses setores, mas também enfrentam os problemas domésticos. Papel e celulose têm um potencial enorme pela competitividade do Brasil nessa área. A mineração já passou pela pior fase. Depois de um boom de 2011 a 2012 em preço, que foi a 160 dólares a tonelada, chegou a um vale em 2015 a 2016, caindo a 40 dólares. Está rodando hoje a 60/65 dólares, o que seria um nível razoável, melhor do que há dois anos, mas longe do pico. Evidentemente o setor é afetado pela conjuntura internacional. Se houver, por exemplo, qualquer tipo de barreira para exportações siderúrgicas, isso afeta a mineração.

Construção civil/Infraestrutura Além de carência de crédito e dificuldade de financiamento, a construção civil pesada sofre com o problema da operação Lava Jato, que inviabilizou muitas dessas empresas sem que houvesse uma substituição à altura no curto prazo. Houve um travamento do mercado, seja pelo lado do setor público seja pelo privado. São nós que precisam ser desatados.

Petróleo e gás É outro setor bastante afetado, não só pela queda de preço no mercado internacional, mas também pela operação Lava Jato, que envolveu toda a cadeia. Tem muita influência na dinâmica da economia. Está num processo de recuperação de preço internacional. Os problemas domésticos foram amenizados com melhor governança da Petrobras, mas não totalmente resolvidos. Há todo um complexo da cadeia petrolífera, de fornecedores, que ainda está numa situação muito frágil.

Editora Conteúdo/Abgail Cardoso

 

 

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