Construído para ser o navio de passageiros mais luxuoso e seguro da época, considerado popularmente como “inafundável”, o britânico RMS Titanic, operado pela White Star Line, naufragou no Oceano Atlântico em sua viagem inaugural, com destino a Nova York , cinco dias após sua partida de Southampton, em 15 de abril de 1912, após colidir com um iceberg.
Além de gerar mudanças nas leis internacionais de navegação e inspirar um filme, a tragédia do Titanic revela lições valiosas para o mundo corporativo. “Como apontado nos documentos oficiais do desastre, se a organização tivesse escutado os alertas vindos da sua própria equipe, engenheiros, parceiros e fornecedores, o desastre do RMS Titanic poderia ter sido evitado”, afirma Pedro C Ribeiro, fundador da Stratech, que fez uma palestra para associados da ABEMI no dia 27 de novembro.
Pedro C Ribeiro é autor do livro Lições do Titanic sobre Riscos e Crises para Líderes, e criador das ferramentas Modelo dos 5 Estágios de uma Crise e Mapa de Percepção de Riscos, e da palestra Lições do Titanic para Líderes, que já foram apresentados na Academia de Liderança em Engenharia e Projetos da NASA. Ele deu a seguinte entrevista para a Newsletter da ABEMI.
Newsletter ABEMI – Como as tragédias acontecem?
Pedro C Ribeiro – Crises são formadas pelo efeito dominó de elementos que, separadamente, parecem não ser relevantes, mas quando se combinam, levam o projeto ao fracasso. Portanto podem ser evitadas ou ter seu impacto reduzido. A boa notícia é que o conhecimento necessário para evitar um desastre quase sempre existe em algum lugar da organização ou dentro da sua cadeia de valor. A má notícia é que tal conhecimento, muitas vezes, é minimizado, ignorado ou não captado pelos sistemas formais de gestão.
NA – Quais os efeitos de uma crise?
PR– O custo de uma crise ou desastre em um empreendimento estratégico, tanto em termos financeiros como em imagem, é gigantesco, especialmente se a empresa já vivencia dificuldades financeiras. Devemos e podemos aprender antes de uma crise, mas esperar para aprender é caro demais e, dependendo do que acontecer, pode não haver uma segunda oportunidade.
NA– Quais as lições do naufrágio do Titanic para empresas de engenharia e projetos?
PR – A principal lição para empresas de engenharia e projetos é sobre a importância da dimensão humana do risco, especialmente sobre o papel da liderança, da comunicação, da cultura de riscos e nossas percepções atitudes e comportamentos frente ao risco na prevenção de crises em empreendimentos. O Titanic afundou estando 100% em compliance com a legislação, um alerta para o fato de que processos e sistemas de gestão de riscos e compliance, embora sejam importantes e necessários, muitas vezes obrigatórios, não são suficientes e podem levar a uma falsa sensação de segurança.
NA– Por que isso acontece? Esses processos e sistemas não deveriam garantir a segurança?
PR – Isso acontece porque elementos fundamentais que influenciam a tomada de decisão sobre riscos, tais como percepções, atitudes e comportamentos nos diversos níveis e funções da organização, não são adequadamente captados pelos sistemas formais de gestão de riscos, por mais avançados que sejam. A dimensão humana do risco e as consequentes limitações da gestão corporativa de riscos, não importa o quanto seja bem projetada e operada, vêm sendo cada vez mais reconhecidas pelos modernos padrões e normas internacionais de riscos.
NA – Como reconhecemos as consequências e os sintomas destas situações ?
Pedro C Ribeiro – As consequências podem ser reconhecidas, quando, por exemplo, logo após a ocorrência de um desastre em um empreendimento, auditorias revelam trocas de e-mails e relatórios internos que já alertavam para a iminência de um desastre. Ouvimos também declarações de membros da equipe, como “eu já sabia” ou “eu bem que avisei e ninguém me escutou”. Os alertas estavam lá, mas foram ignorados, minimizados ou não foram captados de forma efetiva pelos sistemas de gestão de riscos e compliance da empresa. É importante salientar que alertas ignorados contribuem para minar a confiança dos funcionários na liderança e na organização, afetam a comunicação aberta, o engajamento e o trabalho de equipe. Este é um diferencial importante desta palestra que, utilizando técnica de storytelling e ferramentas exclusivas como Modelo dos 5 Estágios de uma Crise e Mapa de Percepção de Riscos, aborda a dimensão humana do risco, o papel da liderança, da comunicação, da cultura de riscos e de percepções atitudes e comportamentos frente aos riscos, demonstrando como estas situações ocorrem, quais são os sintomas e como a liderança pode evitar que aconteçam em suas organizações.
NA – Qual a relevância desse tema para as empresas?
PR– Casos recentes, ocorridos no Brasil e no exterior, em organizações classe mundial, ganhadoras de prêmios de gestão de riscos e compliance, transformaram-se em exemplos de falhas de sistemas, catástrofes ambientais e desastres em projetos e operações, atestando a importância e urgência do tema para a alta administração. Visando prevenir a ocorrência de situações deste tipo, criei o workshop Lições do Titanic para Líderes, uma oficina prática complementar à palestra em que trabalho com organizações no desenvolvimento da cultura de riscos, de percepções, atitudes e comportamentos frente a riscos e crises e na melhoria da comunicação, engajamento e trabalho de equipe entre funções, clientes, fornecedores e parceiros.
Editora Conteúdo/Abgail Cardoso