A inovação tecnológica é essencial para o crescimento econômico. “Não existe país que tenha passado por crescimento econômico, sustentado e relevante, sem que tenha adotado estratégias e iniciativas muito fortes na área de inovação”, afirma o diretor de Relações Institucionais da ABEMI, Telmo Ghiorzi. “Isso aconteceu na Inglaterra na primeira revolução industrial, nos Estados Unidos, no Japão depois da Segunda Guerra, na Coreia, em outros países dos tigres asiáticos e agora estamos vendo a China em crescimento muito sustentável. Tudo isso é decorrência de inovações tecnológicas”, diz Telmo.
Os conceitos da indústria 4.0 surgiram na Alemanha e foram mais rapidamente incorporados pela indústria de manufatura, área que já utiliza largamente a automação e agora avança em digitalização de processos. Na engenharia e construção, há um atraso global no uso de tecnologias 4.0, o que também acontece no Brasil.
“Estudos das consultorias Mckinsey, Deloitte e Accenture apontam a engenharia e construção, mundialmente, como o patinho feio da transformação digital. Mas o pessoal lá fora não está brincando. Temos de ter agilidade e desenvolver a nossa indústria, contribuindo para a geração de empregos aqui. A formação de mão de obra é uma das prioridades”, afirma Newton Freire, conselheiro da ABEMI.
As ferramentas e conceitos da engenharia 4.0 ainda estão em fase muito embrionária no mundo, o que é bom para o Brasil, porque o país está no mesmo patamar e, agindo rápido, pode acompanhar esse movimento ou até sair na frente. Mas não pode se intimidar. “Eu acho que temos de sonhar alto, sonhar grande, porque isso aumenta nossa chance de colocar a engenharia industrial brasileira no patamar de destaque em que ela já esteve. A inovação nessa área será muito importante para a recuperação econômica”, diz Telmo.
Segundo ele, o país não pode perder a oportunidade de estar no pelotão de frente da transformação digital no setor, o que será fundamental para reduzir a dependência histórica das commodities e dos recursos naturais. O setor está consciente disso, mas a engenharia não está entre os quatro setores definidos como prioritários pelo governo brasileiro na transformação digital, que são cidades inteligentes, agronegócio, saúde e indústria de manufatura.
Drones, robôs, inteligência artificial e cloud computing, entre outras novas tecnologias, deverão em breve fazer parte da rotina nas áreas de projetos e engenharia 4.0, mas, na opinião de Telmo, ainda é prematuro dizer como será isso. “Estamos reinventando a roda. Qualquer tentativa de imaginar como serão as coisas, as tendências, é arriscada. Eu prefiro conviver com a incerteza neste momento e não ficar trancado num caminho de uma previsão que talvez não se concretize. Vamos deixar que a interação das diversas partes vá construindo o caminho, e as respostas vão surgir e certamente vão contribuir para maior produtividade, competitividade, redução de custos, ganho de velocidade e de precisão na realização das tarefas”, diz Telmo.
De concreto, ele cita que a metodologia de gerenciamento Building Information Modeling (BIM) — já bastante utilizada no Brasil e no mundo — pode ser considerada o coração da transformação digital, que deixou para trás os desenhos em papel e as dificuldades de comunicação e integração de projetos criados isoladamente. Com o BIM, os projetos civil, de elétrica e hidráulico são integrados num ambiente virtual tridimensional, que permite visualizar a interação e impactos de todas as disciplinas umas nas outras. O Decreto 10.306/2020, que exige que as obras públicas para o governo federal sejam feitas em BIM, deverá intensificar o uso dessa tecnologia no Brasil, que é o ponto de partida para as demais que virão.
A contribuição da ABEMI
A constituição oficial do Instituto ProEC 4.0 (Programa Brasileiro de Engenharia e Construção 4.0), no dia 24 de novembro de 2021 — uma data que vai marcar a história da engenharia industrial brasileira — é uma importante alavanca para o país no sentido da transformação digital e da engenharia 4.0.
Fruto da parceria entre a ABEMI, o Instituto de Engenharia (IE) e o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada – Infraestrutura (SINICON), o Instituto ProEC 4.0 é uma instituição de ciência e tecnologia, de caráter privado e sem fins lucrativos, que habilita a existência e operação do Núcleo de Engenharia e Construção de Sorocaba (NECSOR).
Em resumo, o NECSOR será um centro de incentivo à adoção e demonstração de novas tecnologias. “Teremos um ecossistema de inovação, fazendo a conexão entre os mundos da academia, das startups e dos fornecedores. Serão feitos experimentos para que o uso dessas tecnologias seja proliferado. A ideia é ajudar a diminuir barreiras que interferem na adoção dessas tecnologias”, explica Newton.
Instalado no Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS), o NECSOR ocupará um espaço interno de 33 m2 e uma área externa de 3.187 m2. No ambiente interno, estarão os equipamentos para design em BIM, realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR), inteligência artificial (AI), drones e laser-scan, entre outros. A área externa será um “canteiro digital” para atividades de P&D, ensino, testes, etc. O NECSOR contará, ainda, com a infraestrutura do PTS de serviços e centro de convenções.
O NECSOR atuará em três categorias de atividades: formar pessoas; demonstrar o uso das tecnologias 4.0 em E&C; e desenvolver inovações. Para se ter uma ideia da relevância dessa iniciativa, Newton destaca que, no mundo, existem apenas seis projetos semelhantes ao ProEC 4.0, localizados no Canadá, Reino Unido, na Europa continental, China, Cingapura e Austrália.
Em paralelo, a ABEMI está atuando no fortalecimento de ações institucionais, buscando a aproximação com o poder público, as frentes parlamentares, as câmaras ligadas à ciência, engenharia e inovação. Telmo Ghiorzi e Newton Freire representam a ABEMI na Câmara da Indústria 4.0 do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Mostramos o que temos feito, as dificuldades e o que é necessário produzir em alterações institucionais para favorecer o desenvolvimento do setor”, explica Telmo.
Seis prioridades da engenharia e construção
Uma pesquisa da ABEMI com as empresas do setor aponta como prioridades em tecnologias digitais:
- BIM
- Conectividade
- Realidade aumentada/realidade virtual Inteligência artificial
- Drones
- Cloud computing
- Construção modular
“Essas tecnologias facilitariam, por exemplo, sobrevoar obras em geral e fazer a inspeção em canteiros. Em obras remotas permitiria consultar especialistas para resolver problemas a distância. Para isso, uma internet de melhor qualidade é fundamental. A falta de conectividade é um problema em obras distantes dos grandes centros”, conclui Newton.
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